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Joane Bastos – Gordoridade trans: desgenitalize-se

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Encorpar-se e florescer em desobediências



O projeto Encorpadas idealizado pela Mari Moura foi de extrema importância para feminilidades gordas plurais no período de pandemia da covid-19 em 2020. Enquanto mulher trans/travesti gorda negra foi um espaço de acolhimento em que compartilhei a minha gordoridade trans. Aprendemos coletivamente e nos potencializamos pelas nossas vivências e experiências encorpadas. Para quem possui demarcadores sociais da diferença em um modelo de sociedade pautado na ideia do "dinheiro acima de tudo e lucro acima de todos" sobreviver não sendo e/ou fazendo parte dos padrões patriarcais, cisgêneros, magros, héteros, brancos normativos, burgueses e colonialistas, não é uma tarefa simples e fácil, tendo em vista que precisamos lutar a todo instante e momento para que sejamos humanizados. Saberíamos nós que nos "levantarmos da mesa quando o amor não está mais sendo servido" parafraseando Nina Simone, não seria algo tranquilo e demandaria o custo de um preço que não tem valor: a liberdade. Liberdade essa de se reinventar em inventividades. Processos imbricados de (des)intoxicações, (des)aguamentos, acumulações, (auto)sabotagens, dores, cicatrizes e marcas. O processo de criação das imagens foi um desabafo, uma desvinculação de amarras, uma construção de possibilidades e (des)(re)construção do meu eu individual e coletivo, afinal nossos corpos falam mesmo quando não gostaríamos de dizer nada. Os corpos educam e reeducam um povo e sociedade que nesse sentido almejo nos colocar em prol de humanizá-los na intenção de celebrarmos a pluri-versidade dos corpos, sobretudo do corpo gordo e suas nuances. O autorretrato, veio como uma forma de expressar que o corpo gordo de uma trans/travesti negra fora dos padrões e dos estereótipos da pessoa trans/negra hipersexualizada, fetichizada e exofítica é possível. O corpo "normal" e real é também um corpo gordo e comum que transita no cotidiano de qualquer pessoa. A ideia enraizada no senso comum e status quo de que pessoas trans são aquelas cujo os corpos e imagens são representadas apenas pela visão cisgênera compulsória engessada e heteronormativa de "mulher boa e gostosa" curvilínea, "seios no lugar" se tratando das mulheridades trans, travestilidades e transgeneridades femininas, é posta na tentativa de desmantelar essa visão sobre um corpo trans tido com perfeito aos moldes de um padrão de beleza patriarcal e capitalista. As flores foram pensadas com o intuito decorar esses corpos abjetados por essa sociedade, e também para velar o "tabu" e chamar atenção de que esses corpos também podem ser belos e produzirem beleza e vida. A imagem com um frasco de perfume, tenta explorar a possibilidade transitória no alcance do auto amor e apreciação de si. Genitais não definem o gênero, se assim o fosse, pessoas trans não existiriam, portanto desgenitalize-se e descolonize a mente. É urgente pensarmos nas possibilidades humanas fora das caixinhas normatizantes. Afinal quem é mais conhecedor de nós mesmos dentro de uma realidade social se não nós? É necessário que nos coloquemos em estado de desobediência dentro de uma sociedade gordofóbica e não nos sujeitemos mais às mazelas das opressões estruturais que tentam nos ceifar cotidianamente.Autocrítica! Questionemos as verdades infundadas nas tentativas de nos homogeneizar e passarem por cima de nossas diferenças e nossos corpos. Somos belezas potenciais cheias de transformações e talentos para apresentar! Descolonizem-se das históricas óticas que violentam nossas vidas desde tão pequenas crianças, pois já estamos florescendo na sociedade com nossas dobras, curvas e volumes para colorir em desobediências de esperanças. Abram o caminho para nós passarmos por que esse nosso corre não tem volta mais! Seguimos juntas, juntos e juntes!

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